terça-feira, 24 de novembro de 2009


Mitridatismo

A hora de sumir é agora
É só mais uma manhã lá fora
É quando ouve-se o quanto se é amado
É caminhar sem alguém ao lado
A hora de sumir é todo o auge
Daquilo que surge como vendaval
É o último dia de Carnaval
É quando percebe-se
Que apenas uma sombra
Já é o que conta
E se faz de abrigo
É fugir do perigo
É cortar o espaço
Feito faca quase sem fio
É água, é fogo, é aço
É desafio
É destituir, dessecar
Sentir-se sem lar
A hora de sumir
É a de chegar
De repente
A outro lugar

Ricardo Villa Verde

segunda-feira, 23 de novembro de 2009


Menininha vestida de rosa

Dá um tapa na poeira que outrora
Afundava os passos do teu caminhar
Lembra os tempos de portão
Meio fio, mesa de bar
Me fala se amas, se sonhas
Se ainda é capaz de voar
Só não suma na fumaça
Que faz ficar impossível te encontar
Sei que ainda existe você
Atrás das cortinas do velho teatro
Tenta caber nesse copo
Na essência do insensato
Tenta caber nesse corpo
Onde brindaremos com vigor
Ainda não é proibido
Poder falar de amor

Ricardo Villa Verde



Versos em silêncio

Te vi me olhando da janela
Parecia uma tela
Pintada em meu coração
Faço em minha mente uma prece
Vê se não desaparece
E não vá desbotar
Peço ainda
Em plena segunda-feira
Uma cachaça mineira
E o tempo a me guiar
Num dia de céu limpo
Sem ter nada a fazer
Vou me lembrar de você
E de como tudo foi bom
Trago comigo
Muitas imagens da gente
E como um troféu diferente
A memória suja de batom
Tocou um silêncio
Na roda de poesias
Logo todos me olharam
O versejar era meu
Mas por pensar em você
Quando o sarau acabou
Eu só disse:
Valeu!

Ricardo Villa Verde

quinta-feira, 19 de novembro de 2009



 Sincronicidade sintética


Transcende a luz lilás
Que toma conta de toda
Minha caixa craniana
Abre a quarta porta
Que sustenta a película
Que vibra em ondas
Mais rápidas que a luz
Voltando velozmente
Antes de ter partido:
Idéias...
Precognição da tua imagem
Materializando-se
Em vários sorrisos
Em vários futuros

Ricardo Villa Verde

quarta-feira, 18 de novembro de 2009



Caravana

Quadrilátera folha
Que foi na breve brisa
Que não se encolha
E voe livre, leve e lisa

Função vital, imitei
Audição igual não sei
Fato, vida, olfato, evaporação
Tu meu Sol! Comunhão...

Brancas nuvens não te neguem
Curta metragem no firmamento
Perto, longe, seguem...
Acalentem-me do tormento

Gordack, Sara Mazuco e Ricardo Villa Verde

segunda-feira, 16 de novembro de 2009



Nas nuvens

Quando as nuvens sobem
Pra mente e você sente
Os olhos debruçados
Pesados em leves sonhos
E um sorriso liso de
Mágica paz
Que de repente-mente
Se faz
No desenho do teu rosto
E os transtornos obsessivos
Do dia
À dia, ficam esquecidos
Entre tantos outros
Entulhos
Que já não fazem mais
Nem tantos
Barulhos
Você se senta, deita
Se expande
E se acomoda
P r e g u i ç o s a m e n t e
E levemente de corpo inteiro
Sorri para o espelho
Como o gato de Alice,
Sagaz maconheiro!

Tubarão


Improviso

Tava lendo
Ferreira Gullar
E me deu
Vontade
De escutar
Cazuza
O verso a palavra
Marca de batom
Na blusa
Uma noite que
Fez
Acontecer
Num improviso
Entre
Eu
E
Vc!

Tubarão


Meio-fio

Meio-fio, eu assumo o desafio
nessa corda bamba
Nossa vida já deu samba
Samba-canção
Porta retrato do coração
E viver triste assim
Não me interessa
Não sou pagador de promessa
Não vou carregar essa cruz
Por você já chorei
Várias lágrimas de blues
Eu cansei de sofrer
Tratamento de choque
Eu vou me libertar
Numa pista de Rock!

Tubarão

Solstício

Anoitece uma emoção
E é a mesma direção
Toca o telefone de borracha
Apagando em minha mente
O que ainda restava de ti
Vários Barcos
Várias velas
Vagos olhares
Vagas Orações
Cada vez que termina um amor
É como uma morte
É mais um Norte
É mais um Sul
É a mesma direção

Ricardo Villa Verde


Olhos ácidos

Olhos ácidos
Sorriso elétrico
Em passos rápidos
Andava pela rua
Com seus pensamentos
Desloucados
Sua alma inteira
Brilhava como estrelas
Em compulsão
De partida
O mundo era pequeno
Demais
E ele saiu de casa
Para encontrar
O infinito

Tubarão

terça-feira, 10 de novembro de 2009





Vadinho

 

Em minha espada trago

As maduras displicentes.

Já nos arquivos o estrago

Das casadas inocentes.

Em ruas escuras,

Nuas e esquecidas

A alcova do rijo prometido.

Nos bares, sou um cavalheiro

Que aprecia um sorriso contido

Induzindo- as como um forasteiro

Às várias viagens do sentido.

Revelo no beijo forte as tapas empíricas,

E no rastro as migalhas,

São sempre recolhidas.

Dezenas de reses em boca aberta

Sonham com uma boa acolhida

Sorvo-lhes do eu, na lembrança

Das muitas esquecidas

Umas vozes de ódio visceral

Condecoram meu peito,

Já tantas outras me gritam;

-Ai safado cê num tem jeito.

 

Gordack